domingo, 15 de setembro de 2013

Tudo o que é demais sobra



E eu não quero dizer, também, que alguns poucos exageros não são perdoáveis, como comer chocolates freneticamente durante três dias seguidos quando se está de TPM. O que não vale é abdicar da qualidade só pra desfrutar de uma enxurrada de excessos que, depois de algum tempo, tornam-se monótonos e inúteis. Eu explico: comer chocolate é bom, pelo menos para a maioria dos seres humanos com bom paladar. A primeira barra é maravilhosa: produção de endorfina a todo vapor. A segunda já não te faz salivar enquanto abre a embalagem. Na terceira, você nem sente mais o gosto – é automático, você está comendo chocolate pura e simplesmente porque você sabe que isso é bom, mas não está necessariamente sentindo prazer.
Mas, não – esse post não é sobre chocolate. É que a mesma situação é percebida, quase sempre, nos relacionamentos. Pessoas se arrastam em relações enfadonhas só pelo prazer das bodas de ouro. Colecionam rosas secas recebidas no início do namoro, e um terrível sentimento de vazio na alma – vazio de emoção e de rosas novas.
Não importa se o seu namoro de cinco anos não acelera mais o seu coração, ele é melhor do que a solidão, afinal. E assim você segue vivendo, movido pela preguiça de mergulhar no mundo e descobrir a beleza de se apaixonar de novo. É confortável assim. Quando você abre os olhos, se passaram cinquenta anos e você já carrega algumas dezenas de rugas e um sentimento de vazio que não dá mais para corrigir.
Eu também seria muito feliz se não fosse assim, mas o excesso só traz problemas, e o exagero só gera a falta. É preciso deixar alguma novidade a ser contada, algum mistério a ser desvendado, algum silêncio a ser quebrado – o ser humano é movido pela descoberta, e quantidade e intensidade, definitivamente, não casam.

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