terça-feira, 10 de setembro de 2013

A Concha



Minha mãe me falou que a coisa mais legal do casamento é dormir junto, dividir a cama. Cada um no seu espaço, com a autonomia de unir os corpos a hora que quiser. E depois de um tempo vem o costume do corpo ao lado, a necessidade de tocar alguém que você sabe que está num sono profundo, longe, e ao mesmo tempo muito próximo. 
Com um namoro longo na bagagem e algumas noites mal dormidas, descobri a forma de dormir quase sentindo o corpo todo do outro: A concha. Aquela que abre e fecha perfeitamente, encaixa, e guarda as melhores pérolas no escuro da noite.
Dormir fora era utopia na adolescência. Hoje, basta avisar. Basta encontrar uma concha disponível. Dividir o sono é quase uma arte que requer prática e tato, muito tato. É bom evitar movimentos bruscos, respirações profundas. Puxar o lençol, passar as pernas por cima do outro ou roncar, nem pensar.
Na concha qualquer sussurro é amplificado. Ele está ali, ao pé do ouvido, te contando com a respiração todo o cansaço do dia. E você se sente a mais preciosa jóia, em estado bruto. 
Passam as horas, a madrugada toma conta, a concha se movimenta. É bom saber amansar o mar dos lençóis junto com ela, deixar-se levar ou não sonhar jamais. Para dormir a dois, engana-se quem pensa que o mais importante é não incomodar o outro. O que vale é estar com os sentidos aguçados, com o corpo pleno.
E depois que sono profundo chega, dependendo da troca de energias e sensações, podem vir sonhos bandidos, sexuais ou uma revirada na cama com direito a suor na testa.
Para casar é preciso encontrar a concha perfeita, minha mãe está certa. Existem muitas conchas no mar, porém, poucas dispostas a se abrir e encaixar.

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