sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Quando o Silêncio Não Incomoda


Olhei-o ligeiramente, olho no olho, numa profundidade visual que só nele eu tive coragem de mergulhar. Não disse nada, queria apenas entender o silêncio com o meu olhar e, com isso, deixar bem claro o quanto eu estava ali, presente de corpo, alma e coração. Olhei-o fixamente nas retinas e assim, falando banalidades, mostrei o quanto eu estava perto e longe o bastante para não matá-lo sufocado com minha ânsia de tê-lo sempre comigo.
O relógio não parou e os minutos passaram enquanto naquela mesinha de plástico, ao ar livre, dividíamos, uma generosa porção de silêncio. Tínhamos a imensidão do mar bem ali, a areia que se escondia entre nossos dedos do pé, uma brisa que parecia soprar nossos problemas para bem longe e o sol, lindíssimo astro que vagarosamente preparava o último grande ato do dia.
Enquanto tentávamos falar banalidades do dia a dia naquela mesinha, a cada segundo eu percebia o quanto estávamos distantes, o quanto o silêncio não o incomodava, e isso estava me levando para baixo a cada segundo. Fazia perguntas sobre o dia dele, sobre a festa da semana passada ou sobre a ida dele ao mercado, mas ele só me respondia com meias palavras e meias verdades. Mas não estava acostumada a viver uma meia vida, ele parecia não se importar e só falava sobre assuntos que eram de suma importância para ele, não para mim. Os assuntos que eram importantes para ambos, a solidariedade de um pelo outro e a confiança estavam indo embora como os segundos que não paravam de passar. Pode parecer apenas um minúsculo detalhe, mas graças a essa quietude, percebi o quanto as coisas tinham mudado. O conforto essencial para o surgimento de longas convivências são os diálogos inventados, as piadas velhas que nunca perdem a graça e o sentimento que os uniu desde o começo. 

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