Sentei sozinha para tomar meu chá de cada dia e, entre um gole e outro dessa dádiva, parei para observar os mínimos detalhes do pedaço de mundo que estava inserido naquele instante. Ao meu redor, vi os passos apressados de muitos engravatados, que certamente nem sabiam o motivo real de tanta pressa. Avistei um cachorro de pêlo macio e, por alguns segundos, invejei a vida fácil daquele animal de focinho aparentemente saudável. Olhei para a mesa ao lado e lá fixei o olhar. Estava diante de uma cena comum e característica dos novos tempos: um casal convivendo estupidamente calado, onde os corpos estavam presentes e as mentes certamente mergulhadas no infinito universo dos smartphones que portavam.
Não conseguia parar de olhar diretamente para aquele quadro urbano gelado. Pedi mais um chá e, durante quinze minutos, não houve nenhum sinal de interação real entre aquelas duas mãos digitadoras, olhos vidrados e bocas lacradas. Permaneceram juntos, porém visivelmente distantes. Pediram a conta e seguiram em frente, cada qual para um lado. Ela colocou o iPhone 5 na bolsa, e ele, seu Galaxy S III no bolso. Certamente, dirão ao pessoal do trabalho que tiveram uma ótima manhã e que, naquele dia, tiveram o prazer de tomar café da manhã com seus respectivos amados. Mas eu estava lá, vi com meus próprios olhos e posso dizer sem medo de mentir: eles não estavam juntos! Ela comeu o croissant na provável companhia do Mr. Facebook, e ele fotografou a xícara de café com leite para provavelmente informar ao Sr. Instagram.
Não acho que devemos deixar os benefícios da tecnologia de lado ou que precisamos abrir mão da modernidade e voltar às trevas das cavernas sem Wi-Fi. Nada disso. Só penso que nem o maior dos cientistas será capaz de inventar um atalho capaz de descartar a mistura de dois corpos em um quarto, quando o intuito é o contato real. Sei que o mundo ainda irá evoluir de forma surpreendente, mas sei também que um amor nunca poderá ser apagado com um simples “Ctrl + Alt + Del”.
Preste bastante atenção nos seus atos. Talvez, você não esteja percebendo o quanto as plataformas tecnológicas feitas para aproximar estão distanciando a sua pele da dele. SMS, e-mails e redes sociais são meios eficientes para o contato entre dois corpos que no momento não podem estar juntos, mas nunca, de forma alguma, esse tipo de contato poderá substituir a língua falada pelo nó entre duas línguas.
O amor de verdade sobrevive à falta de luz, à falta de bateria, à falta de ambientes com W-Fi. O amor de verdade só morre quando falta um coração.
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